sábado, 25 de abril de 2009

Evoé Baco!


As mulheres traziam coroas de heras na cabeça, ramos de carvalho nas mãos, tranças de lã do mais puro branco cobrindo seus corpos, e se santificavam dançando por vastas terras até as montanhas, onde batiam tambores, tocavam flautas, cantavam em coros e acendiam tochas antes de abater o bode, mascar a erva e gritar Evoé!, quando então fluía do chão leite, mel e vinho e do ar recendia incenso sírio...

Assim eram os rituais báquicos, que aconteciam uma vez por ano, da Ásia Menor a Grécia, na alta Antiguidade, cuja autenticidade é confirmada pelas iconografias de cerâmicas gregas, pela semelhança dos vestígios dos cultos em diversos religiosos em diversos povos e diversas épocas, e principalmente pela tragédia Bacas, de Eurípedes.

Baco (para os gregos), ou Dioniso para os romanos, era o deus da uva e do vinho, da embriaguez, e também dos desertos, dos lugares ermos, um deus selvagem, um bode.
Para nós, o deus do êxtase. O êxtase é um estado de transgressão. Um limiar entre o doce e o terrível, a sabedoria e a loucura, a fertilidade e a morte, o sagrado e o profano. Um deus de opostos. Da doçura e da fúria. Das multidões e da solidão desértica e inexorável de cada individualidade. Dos bacanais e da transcendência sublime.

Deus patrono do teatro. Não poderia ser outro. Estar em cena é jogar-se no precipício. Na efemeridade do seu aqui e agora, o artista bambeia entre o céu e o precipício. E a sua transgressão vai muito, muito além dos palcos.

Que Dioniso nos abençoe e que o nosso teatro tenha sempre o ímpeto da sua mais doce fúria.

Evoé!!

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